Artigo: FGTS completa 57 anos!
Eu e ele, ele e eu…
Lembro quando o meu saudoso amigo Paulo Safady Simão convidou para assessorá-lo na condição de Conselheiro recém-nomeado pela Ministra do Trabalho Doroteia Werneck, era 1989. Nunca mais deixei o FGTS e seu Conselho Curador.
Estive nos dois lados. Como Governo no tempo do BNH, na passagem pela CAIXA e como Secretária Nacional de Habitação. Na iniciativa privada como representante da Confederação Nacional da Indústria – CNI indicada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC ora como Conselheira Titular, outras vezes como Suplente e desde sempre como técnica no Grupo Permanente de Apoio – GAP.
Minha carreira profissional se confunde com a bela história do FGTS que ao longo de sua existência trouxe desenvolvimento social e econômico para o Brasil.
O passado
Difícil imaginar como estariam nossas cidades hoje sem os volumosos recursos colocados anualmente para investimento nas políticas públicas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana. Nestas últimas cinco décadas o Estado brasileiro não teve orçamento para estas finalidades nem perto dos equivalentes aos empenhados com recursos do FGTS.
Crises enfrentamos várias, batalhas hercúlias foram vencidas, cicatrizes remanescem.
O presente
Para além dos recursos aplicados na execução dos programas voltados ao enfrentamento das desigualdades entre as famílias e entre as regiões, o fundo vem colocando na economia anualmente mais de R$ 209 bilhões de reais (balanço 2022) através dos saques feitos pelos trabalhadores e dos desembolsos para pagamento das obras em andamento.
Julgo importante algumas informações:
A primeira é a destinação de recursos não retornáveis – Desconto, que compõe o orçamento para garantir parte ou totalmente o valor do aporte inicial para acesso ao financiamento habitacional para as famílias de menor renda. Em 2023 são R$ 9,5 bilhões.
A segunda é que o Fundo nas operações de financiamento habitacional opera com taxas de juros anuais variando de 4,25% + TR a 8,66% + TR, inversamente a renda familiar e privilegiando as regiões Norte e Nordeste.
Outra aplicação do Fundo, às vezes invisível para a sociedade, é a aplicação obrigatória das disponibilidades em títulos de longo prazo do Tesouro Nacional, que contribuem de forma relevante para o financiamento da dívida pública brasileira.
Finalmente em prol de um Brasil mais desenvolvido e competitivo o FGTS desde 2008 é cotista único do Fundo de Investimento – FI FGTS aplicando recursos para o desenvolvimento da infraestrutura do Brasil atuando nas áreas de rodovias, portos, hidrovias, aeroportos, ferrovias, energia renovável e saneamento básico. Já somam 42 projetos investidos.
Com um total de R$ 649 bilhões em ativos, patrimônio líquido superior a R$ 117 bilhões e R$ 401 bilhões em empréstimos concedidos, o FGTS se consolida como um dos principais agentes de desenvolvimento social e econômico do país. (Balanço de 2022). Mais de 4 mil municípios já tiveram obras financiadas com recursos do Fundo.
Desde 2016 rentabilizando as contas dos trabalhadores, no acumulado até 2022, superando o IPCA e a poupança.
O futuro
Todas as atenções estão voltadas ao julgamento da ADIN 5090 e ao avanço da modalidade criada em 2019 denominada saque aniversário.
Reconhecemos os esforços do atual Governo e dos membros do Conselho de buscar oferecer aos Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal estudos de impactos prováveis, qual seja a decisão que vierem a tomar. Porém, confirmados os votos já proferidos, necessariamente o FGTS deverá adotar novo desenho.
Uma possibilidade será a nova estrutura se apoiar em aporte de recursos públicos no volume necessário para garantir a rentabilidade das contas vinculadas igual à da poupança. Por exemplo, o complemento necessário para equacionar esta hipótese isoladamente em 2022 seria de R$ 4,0 bilhão.
Quanto ao saque aniversário entendemos ser prejudicial ao trabalhador e ao Fundo.
Ao trabalhador por criar um endividamento com bloqueio de recursos em sua conta que o prejudicará nos momentos de real necessidade como compra da moradia (uma vez que reduz sua poupança para compor a entrada), demissão, doença grave, entre outros.
Para o Fundo porque mais de 50% das disponibilidades, que são aplicadas em títulos do Tesouro de longo prazo, hoje respondem por garantia de antecipação de saque futuro, podendo interferir de forma negativa em seu fluxo de caixa.
Novas batalhas devem ser vencidas para que o Fundo siga sustentável e atuante na manutenção de seus objetivos originais.
Ter o privilégio de fazer parte desta bela história nos enche de orgulho continua a ser nossa missão!
Maria Henriqueta Arantes Ferreira Alves
Consultora técnica da CBIC e membro do Conselho Curador do FGTS